Livro
VIVENDO
LÓLA PRATA e
MARIA EDITH PRATA REAL
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Escrito por LÓLA PRATA em parceria com MARIA EDITH PRATA REAL, foi publicado em 1978, com as crônicas escritas para a coluna Fatos da Vida, do jornal A VOZ DE BRAGANÇA.
Foi lançado em Santos, Bragança Paulista e São José dos Campos. |
Algumas Crônicas do Livro...
A TORCIDA
Clube repleto para o campeonato de judô. Forma-se a comissão julgadora: o pai de um pequeno atleta foi convidado para dela fazer parte. As qualidades necessárias aos juízes eram sabidas de todos: imparcialidade e justiça.
Começam as lutas. Os pequeninos primeiro, os maiores em seguida. Chega a vez do filho pisar no tatame. Vai enfrentar um adversário ágil e bem treinado. Recebe um golpe que o imobiliza, não obstante o esperneio e a
força que faz para livrar-se.
Com o coração aos pulos, o pai juiz emite um grito espontâneo:
-"Vai, filho !"
E o filho foi. Aplicou um contra-golpe com muita habilidade e venceu.
O pai, porém, foi convidado, discretamente, a retirar-se da mesa
julgadora.
Interessante que, com um simples grito, o garoto chegou à vitória. Isso, porque alguns pais sabem gritar para repreender, diminuir, ofender seu filho. Ficam de butuca, quietos, esperando uma falha, um erro, que logo
apontam e condenam. E há muitos filhos que, para firmarem a personalidade, para terem coragem, para sararem até de doença física e psíquica, para encontrarem a Deus, ficam à espera de uma palavra elogiosa e orientadora, de seu pai. Adianta mais um grito entusiasmado por um bem, que o grito repreensivo por um mal, o que irá agredir e revoltar.
Uma torcida entusiasmada conduz à vitória. Talvez não nos jogos de futebol..., mas isso é a exceção que confirma a regra.
NAQUELE DIA DAS MÃES
Naquele dia, almoçamos todas juntas. A Prefeitura da cidade, gentilmente, oferecia a todas as mães, um botão de rosa. Resolvemos, então, ir receber a delicada homenagem: a mãe e as quatro filhas, também mães.
Um bate-papo agradável no carro, durante o caminho. O automóvel parava e funcionários ofereciam as flores. Todas nós recebemos o presente e como eu era a motorista, não sabia o que fazer com a rosa na mão. Virei para mamãe
e disse:
-"Você merece mais essa."
Minha intenção fora me ver livre para poder dirigir, mas o gesto foi seguido pelas outras duas irmãs. A mais velha permanecia segurando a sua própria rosa, examinando-a com atenção. Só faltava ela para transferir o presente, mas permanecia quieta, a remexer no botão cheiroso.
A expectativa mexeu comigo e não me contive:
-"Como é ?, perguntei. Você não se resolve a oferecê-la à mamãe ? "
Olhando-nos com um sorriso de poeta, disse:
-"Primeiro estou tirando os espinhos !"
O NEGÓCIO É SÉRIO
Aquele indivíduo, funcionário eficiente, temperamento expansivo, educação fina, sem defesas, sorria para todos. O público a quem atendia, não o perturbava, trazia-lhe satisfação. Aproveitava os contatos, conversava com todos, vivia em paz com seu trabalho.
Aquilo incomodava o chefe. Não era possível; atender gente o dia todo, durante meses seguidos e continuar com o sorriso nos lábios, atendendo a todos, até mesmo aos reconhecidamente chatos ?
O funcionário continuava na mesma toada: de bem com a vida, transmitia paz e angariava amigos. Menos, a consideração do chefe, que permanecia inconformado; devia ser pouco serviço, ajuizava ele. Então, começou a premiar o rapaz com mais atribuições. Quanto mais sorriso, mais serviço.
Agora, o rapaz só dava conta da papelada, se ficasse fora do horário de expediente. Por um tempo, não reclamou, o salário era bom e correspondia da melhor maneira possível.
Mas, um dia, sua jovem esposa queixou-se da ausência dele no lar, da falta de companhia, pois queria seu marido a seu lado para conversas sobre a vida, para lazer e lamentava o horário seu regresso do trabalho lá pelas 21ou 22 horas.
Ele percebeu que há muito não se distraía, só preocupado com o acúmulo de responsabilidades no escritório. Sentiu o semblante sério e carregado. O espelho da sala lhe revelou raiva, cansaço físico e mental. Cara amarrada. Insatisfação com o ordenado.
Aí, a triste resolução: pede demissão, não real, mas psicológica, do trabalho. Limitou-se ao essencial. Nunca mais sorriu nos dias da semana.
Passou a ser feliz apenas aos domingos. |