É difícil suportar
o canto de uma araponga;
ela estrangula o pensar
enquanto o som se delonga.
Quanto mais eu me aproximo
do homem que penso amar,
tanto mais eu desarrimo
do seu modo de pensar.
Edifiquei os altares
para a meu Deus adorar,
justamente nos lugares
onde aprendi a chorar.
Canto e rezo, rezo e canto
em constante louvação
pedindo a Deus um recanto
dentro do teu coração.
Depois de uma feia briga,
não sei se fico ou se parto...
e a mágoa intensa se abriga
no escurinho do meu quarto.
É romântico demais
sentir a chuva caindo
enquanto escrevo haicais,
namorando o céu infindo.
Não entendo a atitude
dessa alma que vive em mim:
florescendo em juventude,
estando o corpo no fim.
Brigamos... você partiu
por razões que não sei bem...
e numa resposta hostil,
meu silêncio disse amém.
Para não colher castigo,
para ser de Deus, apoio,
serei semente de trigo,
nunca semente de joio.
Olhando o homem que amo,
dando-me amor a granel,
emocionada, proclamo:
- Tenho uma amostra de céu!
Quem tem a alma repleta
dos sentimentos mais nobres,
ama o silêncio do asceta,
dedica a vida aos mais pobres.
- Tem cinco pães e dois peixes!
Ordenou, pois, o Rabi:
- Morrer de fome não deixes,
o povo que eu escolhi.
Estou salvo! Vou ao céu,
pois o Rei que me conduz
pagou por um pobre réu,
o grande preço da cruz!
Quando meu corpo se dobra
em louvor ao Criador,
sinto que a alma recobra
seu primitivo fulgor.
Eu, humilde poemeto
de palavras contrafeitas,
te invejo, lindo soneto
com rimas das mais perfeitas.
Como é intensa a balbúrdia
em casa de adolescente;
nessa idade estapafúrdia
não há silêncio que aguente.
Duas araras conversam
sacudindo suas cores
sem saber que assim, dispersam
a atenção dos trovadores.
Afasta a roupa o adulto
e exibe com galhardia
a cicatriz (ou seu vulto)
de uma feliz cirurgia.
Na praia dos teus encantos
o amor vai se transformando
em voláteis versos tantos,
que a areia vai anotando.
Vem a noite em soledade,
devagar, nos invadindo...
Há coisa que desagrade
mais do que estrelas dormindo?
...“e soltando um grande grito”,
nosso Senhor se entregou
para abrir-nos o infinito
por tanto que nos amou!
Saudade, saudade grande,
Renata e Pedro, queridos,
e não há nada que abrande
os meus maternos gemidos.
Fico banhada em suor
e os ombros logo se encolhem
quando as agruras da dor
nas lembranças se recolhem.
Ora, se o corpo reclama
e a mente está distraída,
joga o cansaço na cama;
tens validade vencida!
Deixam pegadas formosas
nos caminhos onde andaram,
duas vidas amorosas
em cujos “sim” se doaram.
A terra-mãe, Portugal,
da mãe-gentil, o Brasil,
com o amor sempre atual,
são irmãs que o mar uniu.
O que na vida se sofre,
em Deus devemos guardar;
não precisa pôr em cofre
nem em livro registrar.