Livro ALABASTRO
Capa: André Prata |
|
Adversativas
solto os pés do chão... subo em ofertório pelas alças de quimeras... porém a realidade chã e severa clama a mim, poeta: - o que você espera? somente sussurro a responder: - busco o estilo nobre da arte de viver... contudo escrevo, e nessa lavra prossigo a subida no doce labor da palavra todavia na vida prática e rude o vate se debate até o dia do ataúde...
simbolismos
com meu par, voar, voar... coroarmo-nos de arco-íris brincar de deslizar e despejar o dourado solar... na fantasia de sete cores, resplandecermos na alvura na pureza do branco...
Deixei de ser romancista cansei de ser escrivã e como qualquer santista fui à praia, folgazã.
Com baixos de preguicista e os altos de ermitã, tudo me disse: - Desista, vida não é tobogã.
Resolvi ser uma artista mas encontrei um galã que não valeu a conquista e transformou-me em vilã.
De modo muito egoísta, sem pensar no novo afã, pra fotos numa revista tirei fácil, o sutiã.
Por um tempo fui farrista com jeito de cortesã... e nesse agir modernista, envergonhei o meu clã.
Isso embaçou minha vista e me deixou muito chã quando, em visão surrealista, senti minh'alma, anciã.
De atitude pessimista, perdida sobre o divã, confessei ao analista que eu descria do amanhã.
Era alguém idealista que me tratou como irmã e com afeto altruísta fez-me sentir cidadã.
Dessa maneira humanista, eu diria, até cristã, do Bem recebi a pista e
assim, voltei a ser sã. O
Calendário
o
tempo agride... a
ampulheta se esgota... e
o velho entra em
espiral ascendente e
descendente...
arandela de alto custo com detalhes em ébano embutida no biombo discreto de tua pele sensível. Acende-me... Brilharei!
Quem dá a vida por seus irmãos, não é santo? Então, falemos de sóror Joana Angélica, a abadessa de um convento. Amou tanto que enfrentou, desarmada, a lusa turba bélica.
Arrombaram portas, arrasaram altares, inconformados com o grito de independência, depois de calarem com a baioneta, os pulsares de um coração heróico, contrário à violência.
Foi na Lapa, em Salvador, Bahia, o martírio da mulher que as religiosas protegia, ciente de que lá no céu se acendia o círio.
No Brasil, lutava-se pela liberdade enquanto, com sangue, a freira idosa partia para enfim, gozar da eterna felicidade.
Joana Angélica - 1761 - 1823
|